Portugal
No
dia 15 de Setembro, pela terceira vez na vida, o meu país conseguiu
arrepiar-me a pele. Pôr-me o sangue a ferver. Fazer-me os olhos
brilhar. Desde que o Lusitânia Expresso cruzou os mares de Timor e
que o Ricardo defendeu sem luvas o penalti Inglês, que Portugal não
me fazia sentir assim.
Lá
fora, no estrangeiro onde vivo, através das imagens permitidas por
uma ligação online, o Povo Português fez-me sentir o mesmo que a
Humanidade sente quando lê um poema do Pessoa, quando contempla um
quadro da Paula Rego, quando ouve uma música dos Madredeus. Comoção.
Gratidão. Respeito. Aquilo que sentimos pelos poucos de nós que têm
a coragem e o amor ao mundo necessários para fazer aquilo que todos
os outros gostavam que acontecesse.
Neste
dia eu percebi que a revolta contra a barbárie pode ser tão sublime
quanto escrever um poema, pintar um quadro, ou compor uma música.
Pode exigir ainda mais coragem, quando essa barbárie, apesar de ter
acólitos, não tem rostos, como de resto todas as ideologias. Vive
em menor ou maior quantidade na mente de alguns, que por infelicidade
da civilização convergiram para as cadeiras de poder do mundo
ocidental.
Essa
ideologia acha que promover o auto-interesse individual é a melhor
forma de alcançar o bem-estar comum, que por isso a desigualdade
extrema é legítima, que o mercado financeiro é a realidade, e que
mesmo quando essa realidade é trágica não a podemos mudar mas
apenas, resignadamente, piorar o país e a vida daqueles que nele
trabalham.
Hoje
Portugal escreveu um poema com a mensagem que o sistema financeiro
deve servir as pessoas e não o contrário. Hoje Portugal pintou um
quadro onde expressa que se o sistema financeiro não serve, deite-se
fora o sistema porque as pessoas não são descartáveis. Hoje
Portugal compôs uma música onde as pessoas não se “modelam”,
mas os sistemas sim, haja coragem política. Podemos perder tudo o
resto, mas hoje ganhámos o País.
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